quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Cego.

- O que eu estou procurando afinal? - Pensei, em voz alta. Não precisei estender muito o meu olhar pensativo pelo quintal pra captar a cauda de BOB, ricocheteando na velocidade da luz de tanta felicidade. Entre seus dentes afiados, havia um pássaro pendurado pelo pescoço. O pequenino e exposto coração da ave batia freneticamente, na velocidade da luz de tanto desespero.

Eu podia jurar pelo o que você quiser, que ao menos por um segundo que seja, aquele pássaro me encarou.

O que eu estava procurando, afinal.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Tatuagens.

Eu passei pela rua 13, exatamente a meia noite do dia 3 de janeiro de 2011. Lembro-me com precisão do tom verde musgo que irradiava pelo parque municipal, através da grama aparada. Recordo-me do cheiro de terra pouco nítido sufocado pelos odores químicos da civilização, da lua brilhante meio que se escondendo atrás de uma palmeira. E lembro do menino.
Ele usava um pijama azul marinho, que cobria suas pernas e braços por completo. Seus cabelos eram loiros e enrolados, grandes o suficiente pra cobrir os olhos que talvez fossem azuis. Ele era esguio, branco e frágil. Sentado bem em frente a um enorme emaranhado de arames farpados, que circulavam e cobriam todo o ambiente ao redor de uma flor. A bela Brassavola nodosa encontrava-se bem protegida, ramificando alguns talos verdes gigantes para fora da proteção.
Continuei por alguns segundos observando o menino e a flor, imóveis, talvez trocando um olhar cúmplice. Não me demorei muito e retomei o caminho de casa.

Eu voltei á rua 13, exatamente a meia noite do dia 4 de janeiro de 2011. Lembro-me com precisão do vermelho sangue que gritava sobre o verde musgo da grama aparada. Recordo-me do cheiro de morte e carne putrefada sufocando os odores químicos da civilização, da lua brilhante realmente se escondendo atrás de uma palmeira, quase tapando os olhos. E lembro do velho.
Ele usava um pijama azul que não lhe cobria de forma correta o corpo, como sendo o vestuário de tamanho  P e o senhor, concerteza G. Seus cabelos eram brancos e enrolados. Retorcido entre os arames da proteção grotesca, ele tentara transpassar de seu corpo (conseguira apenas metade do objetivo) por entre as grades em uma auto-mutilação descabida. Em vão. A orquídea estava ainda intacta e inerte, a uma boa distância dos braços mortos e flácidos do velho. Quem sentisse o cheiro da situação, imaginaria que aquele senhor estaria tentando aquela façanha a anos e morrera lentamente, tentando com desespero alcançar a flor, que agora era regada com seu sangue.

Me aproximei, sem nem sequer tentar resistir. Tirei uma das chaves do bolso e abri uma porta secreta entre os ferros, arames farpados e pregos. Ignorando o cheiro insuportável de morte, ergui o rosto do velho cadáver. Abri um sorriso.

Seus olhos eram verdes, não azuis.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tequila.

Deslizo como a chuva.
Intensamente faço o sol, nas flores.
Como o preto, me absorves.
E te reflito como o branco, tuas cores.

Mas não só tuas cores.

E vês meus medos, assim.
Aqueles que guardo entre os dedos trêmulos.
Aqueles que defendo com as unhas erradas.
Que me correm por dentro, efêmeros.

Lutamos então, com olhares.
Sabendo que apenas um toque acenderia a chama.
E tudo viraria fumaça.
Cheio de drama.

Nos mantemos assim então. Eu e você, meio....



distantes.

Pernoite.

Por mais escuras que as ruas estejam.
Elas não escondem mais meu som aflito. Meu grito.

Por mais calmos que teus olhos pareçam.
Eles não me consolam, pois te vejo, em conflito. Em atrito.

Eu sei que o que você quer, está distante do que eu realmente sou.
Eu sei que já tive todas minhas chances de redenção.
Mas minhas perguntas me afundam.

Questiono-me.

E dentro de mim, há apenas o vazio.
Eu espero a mudança que nunca vem.
Eu tento um beijo que não irá curar.
Me olho no espelho, e não vejo ninguém.

E nossa última escolha é ver tudo passar.

Porque por mais escuras que as ruas estejam. Eu grito.

E seria bom se você ouvisse... Nem que fosse pela última vez.